Superar as crises existentes, comprometidas com a qualidade de vida, empregabilidade e geração de renda nos 92 municípios do estado se estabelece como o grande desafio dos novos dirigentes, da classe empresarial e de toda a população. As crises que afetam o potencial do turismo em todo o estado, muito especialmente na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro são percebidas como de alta complexidade, canalizando e comprometendo a área da segurança pública, essencial ao desenvolvimento do turismo. Os dados, os fatos e os indicadores existentes são efetivamente alarmantes. O comprometimento da imagem do destino do Rio de Janeiro, embora merecedor de estudos de maior profundidade, face a crise da violência urbana, é de grande soma, possivelmente incalculável. Como descrito no recém lançado livro da Professora Patrícia Cerqueira Reis, intitulado “ A marca da Cidade, reflexões e proposições para construção e gestão de marcas de cidades”, 2018, deseja-se que “ a marca da cidade, quando humanizada, contribua também em seus discursos para o desenvolvimento da cidadania e o estabelecimento da vivencia plena do espaço urbano por meio da construção de espaços de convivência, de comensalidade, de celebração, que no caso carioca, fazem parte do estilo de vida, de sua simpatia e de sua auto- estima”. Para que esta marca seja novamente percebida como uma marca humanizada, atrelada aos estereótipos positivos de nossa cultura como o samba, a bossa nova, o futebol, as praias, as montanhas e o carnaval (Reis, 2018) entendida como diferencial competitivo do turismo da cidade maravilhosa e de todo o estado do rio de janeiro, precisamos de novas propostas atreladas a ética, a arte de fazer política e de um novo pensar referente a governança pública, inclusive no turismo, muito além da contratação ou da utilização dos Snipes propostos. Precisamos neste sentido, aprofundar e desenvolver o conceito da resiliência aplicada ao turismo,entendido como a capacidade de um sistema para lidar com distúrbios, ou como a capacidade de um sistema de absorver perturbações e reorganizações enquanto sofre mudanças de modo a reter essencialmente a mesma função, estrutura, identidade e feedbacks”.
Na pesquisa organizacional, a resiliência geralmente se refere à forma como um negócio responde e resiste aos efeitos desfavoráveis de eventos negativos (Annarelli&Nonino, 2016). Este nos parece ser um dos grandes desafios, entender e conviver com o fenômeno das crises, especialmente a da violência urbana, face a certeza de tratar-se de crises de alta complexidade, de longa duração, sem perspectiva de solução a curto e até mesmo a médio prazo. Evidente que essa análise não exclui a possibilidade de avançarmos em diferentes áreas, inclusive na segurança pública, fato que poderá contribuir com a redução da violência, atrelado a um impacto positivo no setor do turismo. Por outro lado, necessário se faz realçar e fortalecer as ações já percebidas de resiliência, produzidas pelos atores essenciais ao desenvolvimento do turismo em nosso estado, os empresários e a governança pública, que através de projetos arrojados e politicas adequadas priorizaram investimentos em todo o estado e muito especialmente na cidade do Rio, fundamentado em um sentimento de otimismo na busca de um futuro promissor.
nicialmente o hasteamento recentemente da Bandeira Azul na Praia do Peró no município de Cabo Frio. O resultado foi divulgado no dia 20 de novembro passado, data que marca de forma positiva o Turismo na cidade. A reunião decisiva aconteceu em Copenhagen (Dinamarca). O Programa Bandeira Azul é amplamente reconhecido em todo o mundo. Foi criado pela FEE – Foundation for Environmental Education (http://www.fee.global), uma instituição internacional com diversos integrantes representando seus respectivos países. Tivemos nitidamente um exemplo de trabalho conjunto da sociedade civil organizada com o poder público municipal. Não basta ter um cartão postal como o Peró, é preciso saber preservá-lo para as atuais e futuras gerações. De grande relevância citamos ainda os investimentos realizados pela Rede Accor, referente a implantação da marca de luxo Fairmont na cidade do Rio de Janeiro, a primeira na América do Sul, com disponibilidade de 400 quartos e um centro de conferências capaz de acomodar 800 pessoas, possivelmente em um dos pontos mais icônicos da cidade, na ponta extrema da magnifica Copacabana, com as ondas batendo na calçada, como canta o grande compositor carioca Moacyr Luz. No setor dos eventos, impossível não citar o Rock in Rio, possivelmente a marca de maior valor na área da cultura pop mundial, além de ser percebido como o caso mais espetacular relacionado ao fenômeno de um cobranding, entre a marca de um destino e a cultura musical. Na área da mobilidade, entendida como estruturante para o turismo,destacam os quatro relevantes projetos no contexto da resiliência as crises estabelecidas, sendo um relacionado ao modal rodoviário e três ao aeroviário. Inicialmente destacamos os investimentos realizados na BR 101, a principal rodovia turística do país, quase toda duplicada de Niterói a Campos dos Goytacazes – Auto Pista Fluminense, interligando a Região Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro as regiões turísticas da Costa do Sol e Costa Doce, fato que deverá impulsionar o turismo de negócios e especialmente o de eventos, inclusive os atrelados ao turismo rural, face ao potencial existente, contribuindo na geração de emprego, renda, arrecadação de impostos, inovação e conhecimento. Como resultado, aumentam-se investimentos paralelos em infraestrutura, gerando qualidade de vida as populações. Necessário se faz investimentos na área do marketing dos destinos envolvidos, entendido como importante ferramenta para o desenvolvimento do fluxo turístico. Comunicar a vocação de destinos com fins de atrair visitantes e influenciar a sua preferência por uma determinada região, é entendido como estratégico no processo, (Schuler, Vaniza 2016). Com relação aos projetos inerentes ao sistema aeroviário, destacamos dois projetos referentes ao desenvolvimento dos voos regionais em nosso estado, percebida como uma das áreas de grande carência a mobilidade no RJ. A recuperação do aeroporto Internacional de Cabo Frio (100% privado) que, desde 2016 se estabelece como um importante Hub para o desenvolvimento do turismo de lazer e negócios para toda a região da Costa do Sol, especialmente Cabo Frio, Búzios, Arraial do Cabo e Macaé, os principais destinos indutores da região. Necessário se faz salientar que a demanda ao aeroporto citado, encontra-se atrelada aos principais países parceiros na América do Sul, Argentina, Chile e Uruguai, que muito tem contribuído na ampliação do fluxo turístico e na diminuição da sazonalidade dos destinos. Potencializa ainda uma ampla possibilidade na realização de médios eventos corporativos ou de lazer ligando empresas de diferentes segmentos entre os países do continente. De igual relevância, destaca-se a privatização do aeroporto de Macaé, que através do edital publicado no dia 05/11/2018 pelo Presidente da República, deverá receber significativos investimentos, inclusive alusivos a criação de uma nova pista de pouso e decolagem, além da construção de um novo terminal, este já em fase avançada de conclusão, com previsão de inauguração para o início de 2019. A dinamização do aeroporto de Macaé se estabelece em duas grande frentes. A primeira como principal polo da Industria de Óleo e Gás do país, fato que contribuirá para aliviar o aeroporto de Cabo Frio das demandas de equipamentos, barateando e viabilizando as importações inerentes à indústria. Posteriormente no potencial de turismo de lazer existente, em função de Macaé contar com ampla rede hoteleira e diversos atrativos, podendo potencializar ainda toda a região, incluindo destinos como Quissamã, Campos de Goytacazes e o sul do estado do Espírito Santo. O segundo projeto refere-se a retomada dos voos da empresa chilena Sky Airlines no modelo lowcost proveniente de Santiago no início do mês de novembro, contando inicialmente com 6 voos semanais para o Rio de Janeiro. Estes vôos estarão sendo recepcionados no aeroporto internacional Tom Jobim – privatizado desde agosto de 2014 e administrado pela empresa Changi Airport, a mesma empresa que detém a concessão do aeroporto internacional de Cingapura, tido como o melhor do mundo em ranking da consultoria SkyTrax. Importante realçar que o aeroporto Tom Jobim tem obtido índices positivos referente a qualidade dos serviços prestados as empresas e aos clientes destas, fato relevante ao turismo da cidade do Rio de Janeiro e de todo o estado, face aos anos de descaso e de péssimos serviços, entendidos até pouco tempo como um dos óbices ao desenvolvimento do turismo na cidade do Rio de Janeiro. Finalmente, o lançamento da rota entre Rio de Janeiro e Londres do Grupo Norwegian, também no modelo lowcost, fato que deverá contribuir com o incremento do fluxo de turistas europeus na cidade do Rio de Janeiro, capilarizando e fortalecendo o turismo para diferentes regiões do estado, quebrando o monopólio dos voos diretos entre o Reino Unido e o Brasil.
Mãos à obra governador, mãos à obra secretário, o povo do Rio de Janeiro, os empresários e toda a rede dos convention bureau do nosso querido Estado do Rio estarão disponíveis a colaborar e ajudar para o desenvolvimento deste relevante setor econômico, além da humanização da nossa principal riqueza, a marca Rio de Janeiro.
Eduardo Vilela, Prof.de Marketing Turístico da UFF, doutorando na Universidade de Aveiro, Portugal.
Marco Navega, empresário, Presidente da Federação dos Convention & Visitors Bureaux do Estado do Rio de Janeiro.
Foto: Da esquerda para direita, Marco Navega – FC&VB RJ, Carlos Lidizia – UFF, Márcio Santiago – Brasil C&VB e Eduardo Vilela – UFF